terça-feira, 19 de julho de 2011

Meu querido amor cupcake


“Não sei se te chamo de meu amor, como nos velhos tempos – ah aqueles tempos – ou se te chamo de cupcake – igual chamei você quando quase soltamos cupcakes pelos ouvidos naquela confeitaria adorável de Paris. Mas não. Prefiro te chamar por um nome no qual as palavras que agora aqui escrevo não doam tanto para serem escritas. Chamarei-te de Querido, gosto desse. E até o final desta carta, será só um nome sem lembranças. Só até o final.

Querido,

Talvez você não entenda o motivo destas palavras e desta carta. Eu só estou tentando com palavras, o que não conseguiria olhando em teus olhos: despedir-me.
  Peço a você, querido, que não tente entender esta despedida. É algo que eu não entendo, apenas sei que é preciso. Talvez eu esteja errada, mas você não irá perceber. É que, querido, você nunca percebe. Está doendo tanto ter que ser eu a te fazer perceber.  

Você provavelmente irá chegar do trabalho, cansado. Estacionará o carro na garagem, tirará a chave do bolso esquerdo da calça, abrirá a porta, jogará a pasta em cima do sofá menor da nossa sala, e irá notar minha ausência no banquinho do piano. Irá rápido para a cozinha, e avistará um papel cheio de desenhos de rosas na nossa geladeira, e logo achará que se trata de outro aviso para fazer a nossa feira do mês, notará as muitas palavras, e o cheiro de rosas vermelhas vindo do papel, lerá a carta e se perguntará: Por quê?

Eu tentei te explicar o porquê, querido, e como tentei.

Dessa vez esperarei que você perceba.

Sozinho.”


– “Com amor, ValentineLeu a assinatura delicada no final da carta e permaneceu no mesmo silêncio que havia ficado desde o começo.

Ela havia escrito exatamente tudo que ele fizera antes de chegar até a geladeira. Ela o conhecia tão bem.

Sua Valentine havia ido embora, e a culpa era sua, apenas sua. Pensou no dia que foram na confeitaria de Paris, lembrou do sorriso da sua garota.

Lembrou também que ela nunca havia o chamado de querido, e agora desejava que nunca mais o chamassem por tal nome.

Era tarde demais.

Um comentário:

  1. Que texto lindo, Tereza. :3
    Suas palavras me encantaram mesmo. Nunca imaginei que você escrevesse tão bem assim.
    Um beijo, Ana.

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